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terça-feira, 1 de novembro de 2016

"Terapeuta faz terapia..."

Ao longo dos meus 10 anos de formada, não foram poucas as vezes que ouvi: "Mas por que vou trazer meu filho até aqui se você só vai brincar com ele?" - e lá ia eu explicar (novamente, pois a cada avaliação explico o que é terapia ocupacional e como é o meu trabalho com as crianças) que o desenvolvimento infantil se dá através do brincar.

E por estes dias, li esta reportagem do jornal Folha de SP a visão da família, diferenciando o papel do terapeuta e o papel da família, de forma simples, mas muito coerente.
Se desejar ler na íntegra, acesse o link, pois vale a pena!!!




'Terapeuta faz terapia, família brinca', diz mãe sobre filho com autismo
(...) Depoimento a
ELIANE TRINDADE
EDITORA DO PRÊMIO EMPREENDEDOR SOCIAL
PATRICIA PAMPLONA
ENVIADA ESPECIAL AO RECIFE (PE)


18/10/2016  02h00

Ao final da primeira infância de Rafael, hoje com 10 anos, o casal Ana Cláudia e Emerson Cavalcanti se confrontou com um diagnóstico de "autismo tardio" do filho, que até então tivera um desenvolvimento dentro do esperado."Rafa deixou de olhar, falar, começou a ter comportamentos diferentes, um isolamento profundo de uma forma que nos deixava bastante angustiados", conta a mãe.



Rafael é uma criança linda, o melhor presente. Ele brinca, corre, tem suas peculiaridades e necessidade de atenção. Exala amor. Vejo meu filho como uma pessoa com pleno potencial de viver.O autismo dele foi atípico, veio no fim da primeira infância. Ele começou a ter as características da deficiência, como ausência e dificuldade na comunicação, perdas na interação social e dificuldades sensoriais que traziam alguns comportamentos inadequados.Ele começou a se perder por volta dos dois anos. Deixou de olhar, falar, começou a ter comportamentos diferentes, um isolamento profundo de uma forma que nos deixava bastante angustiados.Não podíamos ir a uma festa porque ele se jogava no chão. Aquilo incomodava, deixava ele desorganizado. Era como se ele sentisse dor e não soubesse dizer. Era a sensação que nós tínhamos e não sabíamos como lidar.Conheci o Carlos [Pereira, criador do Livox] entre 2011 e 2012. Nessa época, o Rafa ainda estava no auge da falta de comunicação. Eu montava todo o material de comunicação alternativa, plastificava, colava com velcro em pastas.Era pouco prático. Para o autista, basta alguma coisa acontecer para ele sair correndo. É muito mais fácil em restaurante, parque ou outra atividade pegar um tablet do que abrir uma pasta. Não chamar tanta atenção.A tecnologia tem a praticidade, atrai. É mais fácil capturar as imagens do que ficar pesquisando.Utilizamos o Livox durante um tempo, como comunicação alternativa. Porém, hoje, é uma ferramenta de aprendizagem.É uma tecnologia assistiva, aplicada para aprendizagem principalmente na inclusão escolar. Por exemplo, a gente pega o material da escola do Rafa e adapta o assunto. Ao invés de eu plastificar, cortar, imprimir, monto tudo no tablet. Assim, tanto eu quanto a fonoaudióloga trabalhamos juntas.

PROGRESSO E APRENDIZADO

Quando veio o diagnóstico, mexeu com toda a família. Foi muito difícil. Imagine ver seu filho falando, chamando mamãe, papai, e de repente ele perder a fala.Rafa me ensinou a ser uma pessoa melhor, a respeitar o próximo, a ter paciência, a amar de forma incondicional. Podia passar o dia todinho falando e não ia ter palavras para dizer como é tê-lo como filho. É maravilhoso.As dificuldades existem, não é um mundo fantástico, mas a gente tem que ter qualidade de vida, tem que olhar o outro e pensar que é possível. Eu acredito no meu filho. Pode o mundo inteiro achar que ele não vai conseguir, mas eu sempre vou dizer que ele vai.

ACIMA DE TUDO, CRIANÇA

Sempre tratamos o Rafa como criança.

Terapeuta faz terapia, família brinca, tem que oferecer qualidade de vida, sair, se divertir. Temos que separar as duas coisas. Não adianta o terapeuta querer assumir um lado que só a família pode fazer, assim como não adianta a família querer virar terapeuta.


Por exemplo, se Rafa tem dificuldade de interação social, trabalhamos essa parte, com brincadeiras, de forma lúdica e também em grupo. Se ele tem problema motor, vai fazer atividades motoras, com um personal trainer, fazer academia, natação, brincar com skate, fazer esportes. Essa é a nossa realidade.Buscamos sempre desenvolver Rafa. Tanto que as terapias dele [fonoaudiologia, terapia ocupacional] são para suprir a necessidade que o meu filho tem, não só pelo autismo. 


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